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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Post de Mário Amorim Lopes no Insurgente

O post de Mário Amorim Lopes no Insurgente, de resto bastante interessante, e com cuja substancia nem concordo nem discordo - em matérias de consciência como a presente não outorgo a ninguém o direito de criticar petulantemente o meu exercício e não me dou naturalmente licença de censurar os que, como eu, são livres e em liberdade pretendem viver -; deixou-me a pensar. Afinal, com que lentes vejo o mundo? Com que mãos o sinto? Deixando a tecnicidade da Teoria e Filosofia Políticas que, sendo por mim muito apreciadas, pouco me poderão ajudar neste domínio, importa que divida o objecto para o simplificar e reagrupar.

Vamos atomizar a direita agrupando-a em famílias, tanto quanto é possível fazê-lo. É uma simplificação porventura excessiva e já inadaptada ao sem número de variáveis a que a equação terá de atender para classificar as várias direitas do espectro político actual mas, ainda assim, ou por ser assim, serve o propósito aventado. Aqueles que são Liberais - no sentido Europeu Continental e não no sentido Anglo-norte-americano do termo - nos costumes e na economia, dependendo naturalmente do grau, poderão ser cunhados de Libertários - caso tenham uma visão muito pouco regulamentadora  do Estado, ao acreditarem firmemente  na concepção Hayekiana de Ordem Espontânea e forem mais adeptos de um mercado totalmente livre e aberto - ou de Liberais Clássicos, se estiverem impregnados dos mesmos ideais de liberdade dos Libertários mas acharem que o Estado pode desempenhar um papel um pouco mais relevante na sociedade. Se forem Liberais na economia e começarem a fraquejar no tocante à tolerância que demonstram para com os comportamentos e matrizes morais do que se vos apresentem, então poderão encontrar-se no mundo Democrata-cristão. A CDU e a CSU na Alemanha acolher-vos-ão. Se na economia forem tendencialmente Liberais, aceitando os princípios do livre-mercado, mas com interferências Estatais sempre que aquele que toma as decisões políticas achar que o que está em causa é o tão conhecido «interesse nacional»(?!?) ou os mais falados ainda «centros de decisão nacionais»(?!?) , ao mesmo tempo que mantêm uma rigidez moral pessoal/formal considerável, mas que só muito raramente ou nunca ganha forma de lei, então provavelmente devem ver-se como Conservadores. Se, finalmente, acharem que o Estado pode e deve comandar uma série de aglomerados e conglomerados que, ao invés de competirem em livre mercado, se sujeitam à sua iluminada vontade e que nesse Estado o ungido detém o direito de definir o que é ou não é aceitável no mundo da moralidade; então veja-se ao espelho e chame-se Nacionalista.

Até aqui, im westen nichts neues. E que fazer àqueles ou àquelas que, como eu, tem um ideal de vida relativamente claro e o consideram vertido num caldo habitado por uma espécie de miscigenação entre um Libertarianismo de principio um Liberalismo Clássico de acção? O que dizer daqueles que, como eu, respeitam grandemente a opinião alheia, mas nutrem um respeito quase venerativo, de igual ordem de grandeza, e com idêntico sentido e direcção do respeito por essa liberdade, quando pisam o campo de batalha de São Jorge ou tocam a pedra dos Jerónimos? Em que saco devem ser colocados aqueles para quem a batalha de Diu não lhes é indiferente, qual a natureza dos que se arrepiam quando ouvem o hino nacional, qual o lugar dos que, como eu, reverenciam Duarte de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. Francisco de Almeida ou D. Nuno Álvares Pereira? Aonde me encaixo eu, que tenho a esfera armilar no escritório à direita da Bandeira Nacional?

Caríssimos, creio não ter escolhido ter pontos de vista que fazem de mim um Liberal. Foi a razão que os escolheu por mim ou, adaptando Ortega y Gasset, a razão e as minhas circunstâncias. E não, eu pelo menos não, não sinto um apelo irracional pela terra onde nasci. Sinto um apelo telúrico, intenso, solidário, possessivo até, mas não irracional. Não dar-mos o melhor de nós e exigirmos o melhor dos outros é que é irracional, e isso é o que nós temos passado boa parte do nosso tempo a permitir que aconteça. E se repita. Como povo, temos um território, uma língua, uma organização política consensual e uma cultura de norte a sul una e forjada na lembrança do sofrimento e da perda de séculos de história - e não, não a cunharei de gloriosa, porque sei que não o fui - que, no final das contas, é a nossa; e à qual não podemos escapar. No meu caso, não quero mesmo escapar-lhe. Quero sobreviver-lhe, e dobrar-lhe o cabo das tormentas. Se erros foram cometidos, se quem tomou as decisões erradas e arrastou todos os outros para este buraco do qual agora parecemos não conseguir sair realmente o fez, foi porque não enfrentou uma sociedade civil forte e informada capaz de travar ímpetos despesistas cujas consequências os outorgantes não tinham o direito de fazer reflectir sobre a geração que lhes sucederia; se isso aconteceu, em parte a culpa foi nossa. Assumamo-la. Corrijamos para futuro. Os Liberais não estão à espera que os outros decidam por si, e nós deixámos, ou fomos deixando.

Caros concidadãos, é verdade que não é justo que ao altar da Pátria se sacrifique tudo. E tudo é a liberdade, porque a liberdade são as mais variadas liberdades. Mas a Pátria nunca pediu isso, foram os homens que lhe quiseram dar, umas vezes de coração cheio e de edelweiss's na lapela, mas esquecendo a liberdade dos seus pares, outros usando o seu nome para cumprir os seus próprios fins.

As identidades nacionais servem para não nos esquecermos do que somos e de onde viemos: nunca para impedir que sejamos quem queremos ser. NUNCA. Elas existem para que não chamemos Wihlelm a um Guilherme, elas foram forjadas para que o João seja João e não Juan, elas permanecem porque, de alguma forma, por razões que nem a globalização abala, os Portugueses continuam querer estar entre si, cá dentro e lá fora, embora seja verdade que só estejamos bem onde não estamos no momento em que proferimos as nossas habituais queixas sobre tudo e, basicamente, sobre todos.  E querem morrer cá, e ser enterrados junto dos seus antepassados. Se é verdade que aparenta haver muito pouco de racional nisto, não esqueçamos que Dante nos ensinou que «a razão nos é dada para discernir o bem do mal». Estando eu na posse da totalidade das minhas faculdades mentais, e não achando que este conjunto de acções represente o mal, havemos todos de convir que me resta concluir que representando estas acções o bem, hão-de ter na sua base um qualquer substrato racional, ainda que aceite que epistológicamente esta explicação esteja muito longe de encerrar em si uma validade incontestável. Ficará para outra altura.

Caro Amorim Lopes: apraz-me a sua independência, agrada-me a sua coragem para dizer o que pensa ao invés do que julga que os outros querem ouvir. Ora aí esta uma sempre salutar qualidade Libertária. Mas aceite que eu, estando-lhe provavelmente muito distante no tocante ao sentimento que nutro pela terra onde - aleatoriamente, é verdade - nasci, estou-lhe o possivelmente muito próximo em praticamente tudo o resto.

A franqueza com que lhe escrevo afasta-nos ou aproxima-nos?

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